Foto de arquivo da Reuters do almirante Frank Bradley fazendo comentáriosReuters

O almirante da Marinha dos EUA, Frank Bradley, começou a dar instruções confidenciais aos principais legisladores do Congresso, após o recente e controverso ataque duplo americano a um barco acusado de transportar drogas no Caribe.

O secretário da Defesa, Pete Hegseth, e outros membros da administração Trump foram investigados pelo incidente do ataque duplo, em meio a questões contínuas sobre a legalidade da força militar usada contra supostos barcos de tráfico de drogas.

A Casa Branca disse que Adam Bradley foi o responsável pela mudança e que agiu dentro da lei.

Um legislador descreveu a filmagem do incidente de 2 de setembro mostrada no Congresso na quinta-feira como “uma das coisas mais angustiantes” que ele já testemunhou.

“Sim, eles transportavam drogas. Não estavam em posição de continuar a sua missão”, disse Jim Himes, um legislador democrata do Comité de Inteligência da Câmara que assistiu ao vídeo.

Os dois ataques levantaram novas questões sobre a legalidade da repressão mortal em curso da administração aos barcos, dado o que as regras de combate dizem sobre o ataque aos combatentes feridos.

Espera-se que o almirante Bradley mostre mais tarde o vídeo do incidente aos membros do Senado e explique sua decisão, disse uma fonte à CBS News, parceira da BBC nos EUA.

O presidente dos EUA, Donald Trump, disse que “não teve nenhum problema” com a divulgação do vídeo do segundo ataque. As imagens do primeiro ataque já foram divulgadas.

Durante o incidente, dois sobreviventes do primeiro ataque tentaram retornar ao barco antes que o navio fosse atingido pela segunda vez, informou a mídia dos EUA, incluindo a CBS. Uma fonte disse que a dupla parecia estar tentando recuperar drogas.

De acordo com uma autoridade dos EUA que falou à agência de notícias Reuters, o almirante Bradley deverá dizer aos legisladores norte-americanos na quinta-feira que os sobreviventes eram um alvo legítimo porque se acreditava que o seu barco ainda continha drogas.

O incidente de 2 de Setembro foi o primeiro de uma série contínua de ataques dos EUA que mataram mais de 80 pessoas nas Caraíbas e no leste do Pacífico.

Embora as autoridades norte-americanas insistam que o ataque foi legítimo, ainda está a surgir uma imagem mais completa do que aconteceu naquele dia.

O Washington Post relatou pela primeira vez que dois homens sobreviveram ao primeiro ataque em 2 de setembro e que Hegseth supostamente ordenou um segundo ataque para matá-los.

Na altura, Hegseth denunciou imediatamente o relatório como “fabricado, inflamatório e difamatório”, enquanto o porta-voz do Pentágono, Sean Parnell, disse que “todo o relato é falso”.

A existência da segunda greve foi posteriormente confirmada pela Casa Branca. A secretária de imprensa Carolyn Levitt disse que a ordem não veio de Hegseth, mas do almirante Bradley, que “agiu bem dentro de sua autoridade e da lei”.

Na terça-feira, Hegseth disse que assistiu ao ataque inicial antes de se dirigir a outras reuniões. Ele disse não ter “visto pessoalmente nenhum sobrevivente”, o que atribuiu aos destroços em chamas e à “névoa de guerra”.

Mais tarde naquele dia, lembrou o secretário da Defesa, ele foi informado de que o almirante Bradley havia decidido “afundar o barco e eliminar a ameaça”, uma medida que considerou justificada.

ASSISTA: “Eu pessoalmente não vi nenhum sobrevivente”, diz Hegseth sobre o segundo ataque mortal de barco

A questão suscitou preocupação tanto por parte de legisladores democratas como republicanos, muitos dos quais já criticaram a operação militar em geral.

Para além dos ataques mortais a barcos suspeitos de contrabando de droga, os EUA expandiram a sua presença militar nas Caraíbas.

A própria Venezuela condenou repetidamente o ataque e acusou a Casa Branca de fomentar tensões na região com o objectivo de derrubar o governo.

Trump afirmou, sem provas, que os ataques reduziram enormemente o tráfico de drogas através da rota marítima.

Em cada caso, as provas de que os indivíduos visados ​​eram traficantes de drogas não foram fornecidas publicamente.

Mapa mostrando localizações aproximadas de ataques dos EUA a supostos barcos de drogas no Mar do Caribe e no Oceano Pacífico. Os círculos vermelhos marcam grupos de ataques: três ataques ao largo do México, no Oceano Pacífico, sete ataques ao largo da costa oeste da Colômbia, dois ataques ao largo da América Central, no Mar das Caraíbas, quatro ataques ao largo da costa norte da Venezuela e cinco ataques no Caribe Central, ao sul da República Dominicana e de Porto Rico. Fonte: Acled (último ataque mostrado em 15 de novembro)

Vários especialistas que falaram com a BBC expressaram sérias dúvidas de que o segundo ataque aos alegados sobreviventes, em 2 de Setembro, pudesse ser considerado legal ao abrigo do direito internacional.

Os sobreviventes podem estar sujeitos à proteção fornecida por marinheiros ou soldados náufragos que não podem continuar a lutar.

A administração Trump classificou as suas operações nas Caraíbas como um conflito armado não internacional com alegados traficantes de droga.

As regras de envolvimento em tais conflitos armados – estabelecidas nas Convenções de Genebra – proíbem atacar os participantes feridos, afirmando que esses participantes deveriam, em vez disso, ser presos e cuidados.

O almirante Bradley ainda não comentou publicamente o assunto.

O general Dan Kaine, presidente do Estado-Maior Conjunto, deverá se juntar a ele para uma audiência confidencial no Congresso na quinta-feira, disse uma autoridade dos EUA à CBS.

Acredita-se que uma das dezenas de mortos nos ataques em curso seja o colombiano Alejandro Carranza, visto pela última vez em 14 de setembro.

A família de Carranza apresentou agora uma queixa junto à Corte Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) em Washington, confirmou a BBC Mundo.

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