A icônica capital de Cuba, Havana, está se afogando em um mar de lixo não coletado, já que uma escassez crítica de combustível e peças para veículos afeta a coleta de lixo na ilha, prejudicada por sanções e problemas econômicos.

Montanhas de lixo nas ruas exalam um odor desagradável e atraem nuvens de moscas em várias partes da cidade de 2,1 milhões de habitantes, que tem três aterros sanitários a céu aberto.

Por falta de lixeiras, os moradores deixam seus sacos de lixo na rua, agravando o mau cheiro que já emana dos canos de esgoto transbordando.

“Minha cozinha dá para o lixão”, disse Lissette Valle, uma dona de casa de 40 anos, à AFP.

“Temos que cobrir tudo. Se não cobrirmos, acabamos comendo moscas, mosquitos…”

Dados oficiais mostram que mais de 30.000 metros cúbicos — cerca de 1.000 contêineres de 20 pés — se acumulam nas ruas de Havana todos os dias.

Há um ano, esse número era menos de um terço.

Segundo a direção provincial de serviços municipais, a capital tem pouco mais da metade dos equipamentos necessários para a coleta de resíduos, com 100 caminhões de lixo.

Mas os veículos, que foram doados pelo Japão, começaram a quebrar no ano passado.

Devido às sanções dos EUA, o país comunista não consegue obter as peças necessárias para consertar sua frota de caminhões em ruínas, disseram autoridades locais ao porta-voz estatal Granma.

Some-se a isso a escassez de combustível que assola Cuba desde 2023.

“Isso é algo que nos atinge muito: o combustível”, disse ao Granma o funcionário municipal Miguel Gutierrez Lara, lamentando também a escassez de trabalhadores no setor devido aos baixos salários.

“Nós nos expomos a bactérias” por um salário mínimo mensal equivalente a US$ 17, reclamou um coletor de lixo de 30 anos que não quis se identificar.

Ele disse que nem luvas tem para fazer seu trabalho.

A cidade “está cheia de microlixões”, disse o coletor enquanto empurrava um carrinho de lixo frágil.

O inspetor de saúde Jesus Jiminez disse à AFP que o problema “se tornou incontrolável”, com mosquitos e outros transmissores de doenças como dengue e febre amarela se propagando livremente.

– Lixo ‘abundante’ –

As águas turísticas de Cuba não estão muito melhores.

Na praia de Guanabo, nos arredores da capital, Reinier Fuentes emerge das ondas cristalinas segurando suas nadadeiras de mergulho em uma mão e latas enferrujadas e resíduos diversos na outra.

“Nas praias há empresas dedicadas à limpeza… mas no oceano não há ninguém”, disse Fuentes, presidente de uma ONG que remove lixo do fundo do mar ao longo da costa.

O chefe de recursos naturais de Havana, Solvieg Rodriguez, admitiu que um acúmulo “abundante” de resíduos metálicos nas praias representa um grande desafio.

Para Dulce Buergo, presidente da Comissão Nacional Cubana da UNESCO, parte da solução está em uma maior responsabilidade individual.

“Se você for à praia com quatro sacolas, você deve sair com todas as quatro sacolas — mesmo que a quarta sacola esteja cheia de lixo. E isso nunca deve ser deixado na praia”, ela disse.

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