Com as mãos sujas de óleo, o presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva – então em seu primeiro mandato – sorriu amplamente diante das câmeras durante a inauguração da Plataforma P50, localizada em Campos, Rio de Janeiro. A Petrobras, empresa nacional controlada pelo Estado, havia descoberto enormes reservas de petróleo e gás nas profundezas do Oceano Atlântico.
“Hoje estamos celebrando uma nova independência”, disse Lula. “Estamos testemunhando um marco que definirá uma nova era para o desenvolvimento do Brasil.”
Isso aconteceu em 21 de abril de 2006. Dezoito anos depois, em meio a temores sobre o impacto na crise climática, uma nova corrida pelo petróleo está em andamento na América Latina e no Caribe, com a região se preparando para um boom nas exportações do “ouro negro”.
Pelo menos 16 dos 33 países da América Latina e Caribe estão envolvidos em cerca de 50 grandes novos projetos de petróleo e gás, tanto onshore quanto offshore.
Dois novos gigantes, Brasil e Guiana, estão previstos para registrar dois dos três maiores aumentos nas exportações de combustíveis fósseis até 2035.
De acordo com o último relatório da Agência Internacional de Energia (AIE), a produção na América Latina e no Caribe, que era de 8 milhões de barris por dia (mb/d) em 2022, crescerá 5,8 mb/d até 2028. Com o aumento da produção em países como Brasil e Guiana e novos projetos em toda a região, os países não membros da Opep estão fortalecendo sua posição no mercado de petróleo e gás, desempenhando um papel crucial na mudança da geopolítica global de petróleo e gás.
Mesmo que o mercado mundial de combustíveis fósseis comece a encolher até o final da década, países como Brasil, Guiana, Argentina, Equador, México e Suriname estão apostando no petróleo como uma fonte de riqueza, crescimento econômico e desenvolvimento – apesar de seu impacto no planeta e graças à inércia da comunidade internacional em “transitar para longe” da era do petróleo.
De acordo com o último relatório da AIE, a produção na América Latina e no Caribe, que era de 8 milhões de barris por dia (mb/d) em 2022, continuará a crescer acima da demanda, adicionando 2 mb/d destinados à exportação até 2030. Com o aumento da produção em toda a região, os países não membros da Opep estão fortalecendo sua posição no mercado de petróleo e gás, desempenhando um papel crucial na mudança da geopolítica global de petróleo e gás.
Brasil e Guiana estão previstos para registrar dois dos três maiores aumentos nas exportações de combustíveis fósseis até 2035. A região atualmente representa 15% dos recursos mundiais de petróleo e gás e pode aumentar sua participação se outros produtores históricos transicionarem para longe do mercado de petróleo, reduzindo sua produção e exportações.
O Brasil, que até a descoberta dos depósitos do pré-sal em 2006 era um modesto produtor de petróleo, tornou-se um dos dez maiores produtores de petróleo. Mais de 100 poços foram perfurados, com a produção aumentando de 41 mil barris por dia em 2010 para 2,2 milhões por dia no ano passado, segundo a Petrobras.
A Petrobras identificou novos campos na região da “margem equatorial”, que se estende do Rio Grande do Norte ao Amapá. A empresa também considera a extração de combustíveis fósseis na foz do Rio Amazonas, algo que o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e grupos ambientalistas como o Greenpeace têm se posicionado contra.
A Petrobras planeja investir US$ 6 bilhões de seu próprio orçamento na exploração de novos depósitos nos próximos cinco anos, adicionando mais 10 bilhões de barris às suas reservas – quase dobrando sua capacidade atual.
“Você tem petróleo em um lugar. A Guiana está explorando, o Suriname está explorando e Trinidad e Tobago estão explorando. Você vai parar de explorar o seu?” perguntou o presidente Lula em um recente evento no Rio de Janeiro, organizado pelo Instituto de Iniciativas de Investimento Futuro (FII) da Arábia Saudita.
Na vizinha Guiana, um dos países mais pobres da América Latina, a economia cresceu rapidamente desde que a ExxonMobil descobriu petróleo em 2015. O PIB per capita está disparando, crescendo 33% em 2023 e espera-se que aumente 34% em 2024.