No meio da partida de qualificação para a segunda fase do Copa Aberta dos EUA entre o Bellevue Athletic e o nome atraente de Sharktopus FC, o técnico do Sharktopus, Leo Ohannesian, percebeu algo estranho. Os jogadores do Bellevue pareciam um pouco amigáveis com o árbitro.
“Como um apaixonado treinador de futebol, posso discordar das decisões”, disse Ohannesian à ESPN. “Houve alguns questionáveis, mas houve (outras) coisas durante o jogo. Eles o chamavam de ‘amigo’ e pelo primeiro nome, e eu pensei, ‘Isso é meio estranho.’ Normalmente me refiro aos árbitros como ‘senhor’”.
Após a partida, vencida pelo Bellevue por 4 a 3, Ohannesian entendeu melhor o motivo do tom familiar: um dos jogadores do Sharktopus lhe contou que o árbitro já havia jogado pelo Bellevue.
Quando Ohannesian chegou em casa, ele procurou a página do árbitro no Instagram e encontrou um vídeo dele jogando pelo time reserva do Bellevue, B2.
“E então enviei uma mensagem para o US Soccer e pensei: ‘Ei, isso é algo que pode ser protestado? Porque isso parece um conflito de interesses'”, disse ele. “E eles disseram, ‘O quê?'”
Acontece que o incidente não só foi protestável – por uma taxa de US$ 500 – mas também resultou na decisão do painel disciplinar e de julgamento da US Open Cup de que o jogo deveria ser repetido na íntegra.
“O replay foi ordenado para proteger a integridade da competição com base na presença de um conflito de interesses, já que o árbitro foi confirmado como um jogador recente do segundo time do Bellevue Athletic, B2”, disse o painel em comunicado.
A declaração acrescentou: “O Painel quer deixar claro que sua decisão não reflete qualquer evidência ou crença de que qualquer parte tentou influenciar a competição, nem deve a decisão ser vista como um referendo do desempenho em campo dos árbitros durante a partida em questão.”
Bem-vindo ao caos que é a US Open Cup, competição em que qualquer time do país pode participar e que às vezes conta com times amadores enfrentando times profissionais. O USOC foi disputado pela primeira vez em 1913-14 e tem sido disputado todos os anos desde então, exceto nas edições de 2020 e 2021, que foram canceladas devido à pandemia de COVID-19. Os nomes dos ex-campeões estão repletos de imigrantes, do início da classe trabalhadora nos EUA, times como Bethlehem Steel, Fall River SC e o Liberdades Panciprianas de Nova York.
Que o Bellevue Athletic ou o Sharktopus possam se juntar a essa ilustre lista de gigantes é o mais longo dos planos. Desde o advento de MLS em 1996, apenas um time não pertencente à MLS, o Rochester Rhinos, da segunda divisão, ganhou o troféu, tendo feito isso em 1999. Atualmente, apenas 16 dos 30 times da MLS participam, um triste desenvolvimento para uma competição tão histórica, mas oferece uma chance para os amadores se acotovelarem com os meninos grandes e ganharem um pouco de notoriedade ao longo do caminho – seja com seu jogo ou até mesmo com o nome do time.
Tal como outras competições de copa em todo o mundo, não é incomum que equipas de divisões inferiores derrotem os seus adversários mais bem financiados. Ainda este ano, o time amador baseado em São Francisco O Farolito derrotou dois lados profissionais, Monarcas reais do MLS Next PRO e Baía de Monterey do Campeonato USL.
Houve outros momentos loucos além dos resultados. Antigo NÓS internacional Clint Dempsey já foi suspenso do USOC por dois anos por rasgar o caderno de um árbitro. O fato de as partidas serem frequentemente disputadas em locais menores cria uma atmosfera intensa.
A história de como o Sharktopus FC ganhou esse nome se perdeu nas areias do tempo. Quando questionado sobre a origem do nome, Ohannesian disse: “Ninguém sabe”.
As equipes amadoras vêm e vão, como gotas de chuva em uma tempestade, mas muitas vezes são os laços que unem. Ohannesian relembrou como, quando se mudou para a área de Seattle em 2017, ele achou a cidade “um lugar meio solitário” e foi através do futebol que ele encontrou uma comunidade com ideias semelhantes. Mantendo o tema de inspiração animal, Sharktopus joga apropriadamente na RATS League (para equipes recreativas de futebol adulto) e gradualmente elevou seu jogo ao nível de participação no USOC.
A presença de tais equipes torna o direito de se gabar local tanto parte da estrutura do torneio quanto o levantamento do troféu, daí a confusão sobre o que aconteceu na partida Bellevue-Sharktopus.
O diretor esportivo do Bellevue Athletic, Anastacio Rivera, admitiu que a situação nunca deveria ter acontecido. Ele disse à ESPN que o árbitro em questão é bem conhecido na área de Seattle e já havia jogado pelo B2 em junho. Rivera acrescentou que o árbitro foi questionado antes do jogo se havia algum problema com ele no trabalho da partida, e ele indicou que não.
Bellevue agora se sente prejudicado por estar sendo punido por uma situação que ocorreu sem culpa própria. Fontes do futebol americano deixaram claro que nenhum dos times está errado. O árbitro também foi bem avaliado nas partidas anteriores. Mas há algo a ser dito sobre a manutenção da integridade da competição, o que Rivera entende.
“Só quero ser claro. Apoiamos todo o sentimento. Apoiamos isso”, disse Rivera sobre como evitar conflitos de interesse. “(O árbitro) provavelmente não deveria estar arbitrando um jogo nosso. Não achamos que ele deveria, mas quando você pergunta a ele e ele diz que está tudo resolvido com todos, então não há muito que possamos fazer no momento.”
Rivera acrescentou que Bellevue interpôs recurso da decisão ao painel de julgamento e disciplinar, vencendo o prazo de 16h CT de quarta-feira e pagando uma taxa própria de US$ 500.
Se a decisão for mantida, o replay deverá ocorrer antes do início da terceira rodada da competição, em 1º de novembro. Depois de disputado, outro capítulo selvagem do USOC entrará nos livros de história.


















